Louco por Séries! Ontem estreou na programação do canal AXN a nova temporada da série The Shield, que levou o ultimo Globo de Ouro de melhor ator (Michael Chiklis, estupendo) e de melhor série. O primeiro episódio do segundo ano foi eletrizante e justifica plenamente os prêmios. Há alguns meses escrevi para o site Fraude minhas impressões sobre a série, que eu estava acabando de conhecer. Abaixo, o texto na íntegra:
Deviam fazer isso no Brasil
Nova série policial americana enfim fala sério – por Fábio Fernandes
Truculência e corrupção policial. Uma delegacia de polícia onde ninguém é bonzinho, e mesmo os (pouquíssimos) que não tem nada a esconder encaram a vida com cinismo e desconfiança.
Você já viu isso antes. Mas nunca numa série de TV americana.
Estou falando de The Shield, uma das novas séries que o canal de TV a cabo AXN está exibindo no Brasil. Estrelada por Michael Chiklis, a série está a anos-luz de distância dos filmes policiais norte-americanos típicos, onde – ainda nos dias de hoje – o mocinho é inteiramente bom e o vilão é inteiramente mau.
Aliás, falando em mocinho, Chiklis dá um show a parte. Sua última série exibida na TV brasileira (na Record e no Multishow, no início da década de 90) foi O Comissário, em que ele fazia o papel de um chefe de polícia gordinho e bonachão, marido amantíssimo e pai dedicado, como se dizia antigamente. Em The Shield? Esqueçam: Chiklis é Vic Mackey, policial durão que é considerado o melhor não só do seu distrito como de toda a região mais barra-pesada de Los Angeles. Mackey é um sujeito que cumpre seu dever – mas se tiver que cobrir um marginal de porrada ou plantar provas falsas para pegar algum vagabundo, ele faz isso sem o menor pudor. E quem está falando em direitos humanos, cara-pálida?
Ok, ok, para a gente, que mora no Brasil, policiais que agem assim não constituem necessariamente uma novidade (a menos que você, estimado leitor, viva em Alphaville ou na Vieira Souto, mas mesmo assim tenho minhas dúvidas), mas é muito, muito bom ver uma série como estas na televisão. Primeiro porque, se é para ver uma série policial (eu vejo e assumo que gosto), vamos ver um negócio bem-feito: já chega desse negócio de homem-ou-grupo-de-homens-contra-a-corrupção-e-o-crime-na-cidade-grande. Ficção tem limite e acho que nem o norte-americano é tão imbecil a ponto de acreditar que um homem só derruba o sistema.
The Shield também não prega essa bobagem. Assume que o sistema é falho e corrupto, e não fica cheia de dedos na hora de expor os problemas. Tem policial pra tudo que é gosto: o político engravatado, o truculento marombado, o viado metido a certinho, o detetive inseguro e chato. Ninguém é melhor do que ninguém, e no fim das contas manter-se dentro da jogada é tão ou mais importante que combater o crime.
Melhor que isso, sinceramente? Só vendo uma série brasileira fazer a mesma coisa. Aliás, ver uma série brasileira (não produzida pela Globo, diga-se de passagem) já seria um grande adianto. Se fosse uma série honesta, então...
Primeiras impressões (que podem estar erradas) - Ontem, antes de The Shield, assisti um pedaço da nova série Boomtown. Dirigida por Jon Avnet (Tomates Verdes Fritos), a série mostra o violento dia-a-dia do lado pobre de Los Angeles. Não sei, mas fiquei com uma impressão desagradável de que os criadores da série viram Cidade de Deus e decidiram pegar o lado "cosmética da fome" (para usar o termo cunhado pela Ivana Bentes). Muito sangue e pouco conteúdo. Mas assumo: não vi o episódio na íntegra, logo posso estar redondamente enganado. Se alguém viu o episódio completo, mande um e-mail para a redação dizendo o que achou.
Deviam fazer isso no Brasil
Nova série policial americana enfim fala sério – por Fábio Fernandes
Truculência e corrupção policial. Uma delegacia de polícia onde ninguém é bonzinho, e mesmo os (pouquíssimos) que não tem nada a esconder encaram a vida com cinismo e desconfiança.
Você já viu isso antes. Mas nunca numa série de TV americana.
Estou falando de The Shield, uma das novas séries que o canal de TV a cabo AXN está exibindo no Brasil. Estrelada por Michael Chiklis, a série está a anos-luz de distância dos filmes policiais norte-americanos típicos, onde – ainda nos dias de hoje – o mocinho é inteiramente bom e o vilão é inteiramente mau.
Aliás, falando em mocinho, Chiklis dá um show a parte. Sua última série exibida na TV brasileira (na Record e no Multishow, no início da década de 90) foi O Comissário, em que ele fazia o papel de um chefe de polícia gordinho e bonachão, marido amantíssimo e pai dedicado, como se dizia antigamente. Em The Shield? Esqueçam: Chiklis é Vic Mackey, policial durão que é considerado o melhor não só do seu distrito como de toda a região mais barra-pesada de Los Angeles. Mackey é um sujeito que cumpre seu dever – mas se tiver que cobrir um marginal de porrada ou plantar provas falsas para pegar algum vagabundo, ele faz isso sem o menor pudor. E quem está falando em direitos humanos, cara-pálida?
Ok, ok, para a gente, que mora no Brasil, policiais que agem assim não constituem necessariamente uma novidade (a menos que você, estimado leitor, viva em Alphaville ou na Vieira Souto, mas mesmo assim tenho minhas dúvidas), mas é muito, muito bom ver uma série como estas na televisão. Primeiro porque, se é para ver uma série policial (eu vejo e assumo que gosto), vamos ver um negócio bem-feito: já chega desse negócio de homem-ou-grupo-de-homens-contra-a-corrupção-e-o-crime-na-cidade-grande. Ficção tem limite e acho que nem o norte-americano é tão imbecil a ponto de acreditar que um homem só derruba o sistema.
The Shield também não prega essa bobagem. Assume que o sistema é falho e corrupto, e não fica cheia de dedos na hora de expor os problemas. Tem policial pra tudo que é gosto: o político engravatado, o truculento marombado, o viado metido a certinho, o detetive inseguro e chato. Ninguém é melhor do que ninguém, e no fim das contas manter-se dentro da jogada é tão ou mais importante que combater o crime.
Melhor que isso, sinceramente? Só vendo uma série brasileira fazer a mesma coisa. Aliás, ver uma série brasileira (não produzida pela Globo, diga-se de passagem) já seria um grande adianto. Se fosse uma série honesta, então...
Primeiras impressões (que podem estar erradas) - Ontem, antes de The Shield, assisti um pedaço da nova série Boomtown. Dirigida por Jon Avnet (Tomates Verdes Fritos), a série mostra o violento dia-a-dia do lado pobre de Los Angeles. Não sei, mas fiquei com uma impressão desagradável de que os criadores da série viram Cidade de Deus e decidiram pegar o lado "cosmética da fome" (para usar o termo cunhado pela Ivana Bentes). Muito sangue e pouco conteúdo. Mas assumo: não vi o episódio na íntegra, logo posso estar redondamente enganado. Se alguém viu o episódio completo, mande um e-mail para a redação dizendo o que achou.